Ventilação Não Invasiva no Desmame: Quem se beneficia?



Última atualização: Sexta, 05 de Agosto de 2016, as 10:45

Tabela Artigo15A Ventilação Não Invasiva (VNI) consiste em um método de assistência ventilatória em que uma pressão positiva é aplicada às vias aéreas do paciente por meio de máscaras ou outras interfaces, sem a utilização da intubação endotraqueal. De acordo com as Diretrizes Brasileiras de VM (2014)1,2 , seu uso é recomendado em exacerbações agudas de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), exacerbação da Asma, Edema Agudo de Pulmão Cardiogênico, Insuficiência Respiratória Hipoxêmica, Pneumonia Adquirida na Comunidade grave, pós-operatório, broncoscopia e pós-extubação.

A utilização da VNI na pós-extubação pode ser aplicada em três diferentes situações:

Uso da VNI no Desmame / Extubação
Indicações Objetivos Recomendações 1,2
VNI facilitadora Facilitar a retirada da VM VNI como facilitadora da retirada precoce da VM em pacientes com DPOC, mesmo naqueles não passando TRE*.
VNI preventiva Prevenir a falha de extubação VNI imediatamente após a extubação de forma preventiva em casos selecionados, especialmente hipercápnicos.
VNI curativa Tratar a falência respiratória após a extubação Evitar VNI na falência respiratória até 48 horas após extubação.

*TRE - Teste de Respiração Expontânea.

Quando utilizada como um método de desmame, o paciente é retirado precocemente da Ventilação Mecânica (VM) e colocado em VNI, reduzindo a duração da VM e seus efeitos adversos.

Burns e colaboradores (2014)3 fizeram uma revisão sistemática com metanálise em 16 estudos, que avaliaram o uso da VNI como estratégia de desmame da VM em pacientes adultos com Insuficiência Respiratória Aguda (IRespA).

Os principais impactos avaliados foram: mortalidade, pneumonia associada à VM, taxa de insucesso do desmame, necessidade de reintubação e traqueostomia, duração da VM e tempo de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e hospitalar.

A fim de reduzir a heterogeneidade da revisão sistemática, os estudos foram divididos em dois subgrupos: nove estudos com pacientes exclusivamente com DPOC e sete estudos com populações mistas, ou seja, com IRespA de outras etiologias.

Dentre os impactos avaliados nos estudos, a VNI como forma de desmame, quando comparada com estratégias convencionais, reduziu de forma significativa a mortalidade (RR 0.53, 95% CI 0.36 to 0.80), as taxas de insucesso do desmame (RR 0.63, 95% CI 0.42 to 0.96) e a incidência de pneumonia associada à VM (RR 0.25, 95% CI 0.15 to 0.43). Também houve redução nas taxas de reintubação e traqueostomias, no tempo de duração de VM e tempo de internação em UTI e hospitalar.

Quando comparados os dois subgrupos, a mortalidade foi significativamente menor nos estudos envolvendo exclusivamente pacientes com DPOC, do que estudos com populações mistas. Segundo os autores, essa diferença estatística pode ser justificada pelo fato de que os pacientes com limitação crônica do fluxo aéreo se adequam melhor à VNI, dada a sua capacidade para compensar a fadiga muscular respiratória e taquipneia, aumentar o volume corrente (VC) e reduzir a Pressão Positiva Expiratória Final (PEEP) intrínseca.

Algumas limitações podem ser consideradas nessa revisão sistemática: a heterogeneidade entre os estudos e a ausência de protocolos de desmame, podendo ter contribuído para um viés na duração da ventilação mecânica.

Essa revisão aponta mais uma vez para a população de pacientes com DPOC como a que mais se beneficia da VNI, inclusive no contexto do desmame da VM. Novos trabalhos são necessários para investigar seu papel em indivíduos com outras doenças de base como causa da IRespA.

Autores:


 

Juliana Arcanjo

- Fisioterapeuta.

- Doutoranda em Ciências Médicas no Laboratório da Respiração, RespLab, da Universidade Federal do Ceará (UFC).



Marcelo Alcantara Holanda

- Prof Associado de Pneumologia e Terapia intensiva da Universidade Federal do Ceará (UFC).

- Idealizador da Plataforma xlung para ensino da VM.




Referências:

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